O lar de arte da galerista Maria Baró
Cores e obras definem setores.
“A arte é capaz de revolucionar a vida, trazendo a ela outra dimensão, abstrata e subliminar”, afirma a galerista espanhola Maria Baró, proprietária da Baró Galeria, em sua casa em São Paulo. Ela bem sabe disso. Nascida em Barcelona, primeiro cursou engenharia química e comércio exterior. Foi o interesse de alguns de seus clientes do mercado asiático por obras de arte que a inseriu nesse mundo e a tornou uma art dealer. Só depois, veio o curso de história da arte, que a fisgou de maneira inexorável.
Basta ver o interior da construção no Jardim Paulistano, em São Paulo, ambientada pela própria moradora não para ser vista por quem quer que seja, mas sentida pela família ela compartilha o espaço com o marido e os dois filhos. Logo à entrada, o hall revela, no chão, uma superfície azul com a inscrição “deusejos”, do artista plástico Jorge Menna Barreto. A constatação é uma coleção eclética de arte contemporânea e design. O mobiliário assinado junta-se às várias obras que ganham os espaços. “São criações de cunho humanista, construtivista e conceitual, afirma ela, com seu sotaque hispânico.
Lua e Vênus regem a canceriana com ascendente em Libra, moradora do Brasil desde 1997, país que considera seu lugar. Para ela, o colecionismo não é um escape, mas um mergulho. “Vivo da arte e sou compradora compulsiva de obras e design”, comenta. De espírito caseiro, diz gostar de ficar em sua morada, embora tenha pouco tempo para isso como se dedica de segunda a sábado à galeria, restam-lhe os domingos. Isso quando não está viajando. Maria acaba de chegar, por exemplo, de uma work trip de um mês em que passou por Hong Kong, Pequim, Barcelona, Paris e Londres, para visitar feiras de arte e contatar novos artistas.
Nas oportunidades em que se encontra em casa, a galerista conta que é comum se ver com martelo e pregos à mão. É para dispor com satisfação obras nas paredes tingidas com diferentes gradações de cinza, no térreo, que vão se tornando violáceas à medida que se sobe a escada rumo à área íntima, no piso superior, revelando um interessante jogo de volumes. “Nada aqui é brusco: um aposento precede e promete o outro”, como escreveu Clarice Lispector.
Sempre existe uma intenção nas composições resultantes. “Neste local, por exemplo, usei como ponto de partida a obra de Jorge Macchi, que retrata um fósforo e representa, para mim, a luz da vida”, explica ela, apontando à direita do living um dos cantos humanistas da coleção, com obras como as de Jac Leirner, Francis Alÿs e Mona Hatoum. Já à esquerda, figuram exemplares construtivistas, com criações de Renata Lucas, Nicolás Robbio e Monica Piloni, entre outros.