Anna Piaggi: a moda se despede da brilhante editora italiana
Diva surrealista, ícone da extravagância e artista incansável. Ela faleceu aos 81 anos, em Milão, deixando os rótulos que deram novos rumos à “fashionland”
Cliques de 1970 e de 2011
As pitadas fantásticas que alimentam a moda não existiriam sem ela. Anna Piaggi acendeu um novo cenário nos anos 60 italianos. Seu talento marcou a maneira de fazer revistas e ajudou a fundar a moda contemporânea, assim como seu guarda-roupa elétrico entrou para o hall de estilos icônicos. Uma biografia marcada hoje (7/8), dia em que ela foi encontrada morta em seu apartamento, em Milão, abrindo a série de homenagens que começaram com o tweet do estilista Stefano Gabbana: “Ciao, Grande Anna!”.
Os indefectíveis chapéus, o make poderoso, os cabelos coloridos e os looks elaborados compõem a figura que (muito antes de Anna Dello Russo) descobriu a autenticidade em seu DNA. Diferente do circo de estilos publicados nos blogs de street style, Anna Piaggi desvendou um glamour punk que era a sua cara, e tornou-se uma colecionadora de moda (muito antes de Daphne Guinness). Tanto que em 2006, o museu britânico Victoria & Albert abriu uma exposição que esmiuçava o estilo da editora de moda, dona de quase 3 mil vestidos e 260 pares de sapatos em seu closet de luxo.
O poder em looks
Uma mulher moderna além da compreensão humana, descreveu seu amigo íntimo Manolo Blahnik. O top designer de sapatos é um dos nomes ilustres que adoram a dona dos acidentes estéticos mais inspiradores da moda italiana. Ela nasceu em Milão, em 1931, começou a trabalhar como tradutora no grupo Mondadori, onde conheceu seu marido, o fotógrafo Alfa Castaldi, que faleceu em 1995. Ela então desembarcou na moda assinando conteúdo para as revistas Adrianna, Vanity e Panorama, antes de entrar para a Vogue Itália nos anos 70, marcando sua colaboração mais duradoura.
Além do jornalismo, ela ganhou o título de musa por gente como Karl Lagerfeld, Vivianne Westwood e Stephen Jones. Mas sua magnitude ficou expressa muito além dos looks apoteóticos e das 7 mil páginas criadas ao longo de sua carreira. A austeridade do mundo da moda foi ao chão com o senso de humor que Anna aplicou em sua imagem iconoclasta. Era um gosto pela provocação usado para celebrar a moda, que perdeu hoje a personagem responsável por diluir a fronteira entre seu corpo e suas ideias, como definou o fotógrafo Bill Cunningham, ela faz poesia com roupas.