Tudo que rolou na Casa de criadores Verão 2010 Casa de Criadores Verão 2010 1º Dia A 25a edição da Casa de Criadores, que mais uma vez dá a largada para a temporada de desfiles para o verão 2010. Quem abriu o primeiro dia de desfiles foi a estreante Urussai, marca de Catarina Gushiken, com uma intervenção que consistia na apresentação do teatro Kabuki, espécie de teatro tradicional do Japão, seguido do desfile em si bem que as duas apresentações podiam ser integradas, ia ser mais interessante e menos cansativa. Enfim, a coleção veio marcada por referências orientais, uma das principais características da Urussai, tendo seu ponto alto naquelas peças que usa tais elementos de forma nada óbvias e super mesclados com a tradição ocidental do vestir, assim como um estilo mais moderno. É o caso daquele quimono-macaquinho, de shortinhos bem curto em cetim de seda levinho, ou então do vestido branco solto, com barra mais justa e decote/gola de quimono. As estampas também merecem destaque, afinal é um dos pontos fortes da marca. Desenvolvida por oito designers diferentes sempre fazem alguma releitura de ícones japonesas. Depois foi a vez de Karin Feller, estilista que venceu o projeto Ponto Zero na edição passada. Seu verão 2010 vem todo inspirado na textura da cidade, como ela mesmo contou. Da coleção passada continua aquela vontade experimentar com materiais inusitados, transformando a matéria e brincando com sua funcionalidade. Isso aparece de modo super claro nos colares feitos de clipes de papel que decoravam os looks de silhueta bem ampla e confortável. Camisetões bem folgados vinham em tonalidades manchadas à la tie-dye, combinados shortinhos um pouco mais estruturados com drapeados nas laterais, ou simplesmente um mais soltinhos e volumosos a bermuda balonê masculina é super fofa. Bem mais comercial do que na coleção passada Karin consegue dar uma sutileza geral a suas peças adicionando detalhes delicados como os laços na alça e manga de vestidos e blusinhas bem soltos, babados que chamam atenção para os ombros e drapeados mais desestruturados. Tudo de um jeito bem despojado e despretensioso, com uma boa pegada street.
Trazer referências e elementos femininos para o universo masculino continua sendo o objetivo de João Pimenta para o verão 2010. A idéia é fazer um contraponto com a coleção passada, explica o estilista. Daí que ao invés de se focar na silhueta, com looks bem estruturados, sua nova coleção vem com o foco no caimento, em peças de formas amplas e fluídas quase sempre cortadas em viés técnica que ajudou a dar esse ar mais delicado e feminino as roupas, deixando-as mais próximas do corpo, com caimento que acabava por revelar as formas e curvas do corpo masculino. O preto também sai de cena, dando espaço para uma cartela de cor repleta de brancos, off-whites, beges, crus e marrons, o que fez perfeito sentido com as referências caipiras que João trabalhou nessa estação. De resto, foi o estilista no seu melhor estilo. Sua alfaiataria repleta de elementos clássicos vem toda retrabalhada em tecidos naturais, quase sempre com ombros mais marcados e caimento levemente evasê. Com comprimento mais curto e um pouco mais próxima ao corpo, davam ainda mais ênfase as camisas e camisetas bem soltas em malhas de algodão bem fino que caiam esvoaçantes sobre as calças de barra mais curta, cavalo baixo e modelagem mais ajustada ao corpo. Interessante também a evolução da coleção do desfile. Começando com peças mais simples, numa silhueta mais ampla e fluída, sem muita decoração. A medida que a cartela de cor vai escurecendo, os tecidos vão ficando mais encorpados e as decorações aumentam. Como que o homem estivesse amadurecendo, passada de looks mais despojados e confortáveis para outros de aspecto levemente mais austeros, com rendas mais marcantes, brocados e jacquards que dão um toque mais maduro ao look. E por mais que as referências femininas estejam por toda parte, João consegue deixar sua coleção super masculina, com peças indispensáveis e algumas até que bem comerciais para os padrões da marca – para o guarda-roupa do homem atual, e até mesmo mais fácil de chegar a vida real do que a coleção passada. Outra marca de moda masculina que marcou presença nesse primeiro dia da CdC foi a Der Metropol, do estilista Mario Francisco. Pensando na necessidade de proteção dos dias de hoje, o estilista tria referências medievais e dos nosso próprios recursos de segurança da atualidade para construir sua coleção com mixava elementos punks dos anos 80, com um pouco de 90. As referências, assim com alguns dos looks podem até parecer meio batidos e sem muito frescor, mas o grande destaque da coleção está em cada uma das peças. Mario é um estilista de mão cheia. Suas peças, por mais simples que sejam, apresentam construção impecável e algum detalhe que dá a informação de moda necessária para tirar a roupa do lugar comum. Nessa coleção isso fica bem evidentes nas camisetas de modelagem um pouco mais ampla, com pregas nas costas e ombro, ou nas mangas duplas, com uma camada de tecido extra, e também nas pregas e babados que aparecem de forma pontuais em algumas peças, como referências as aberturas das armaduras medievais para melhor movimentação. Sua alfaiataria tem corte e acabamentos super contemporâneos, com linhas e recortes assimétricos, como no preto sem mangas de com recortes frontais bem discretos. Em clara referência ao punk e também ao próprio conceito da coleção algumas ganham ombros marcados por estruturas que dão um leve volume a região, ou então com aplicação de espinhos de tecidos ou neoprene. E quem fechou o primeiro dia de desfiles foi Gustavo Silvestre, que teve no caleidoscópio inspiração para seu verão 2010. Daí vem boa parte das estampas bem geométrica em tons de preto, coral, vermelho, laranja e amarelo. Sempre em comprimento bem curtos, Gustavo começa com vestidos em jérsei bem soltos, em branco e preto, indo aos poucos ajustando sua silhueta. Meio que indo dos anos 70 para os 80, os vestidos vão ficando cada vez mais justos a medida que os tecidos vão ficando mais encorpados e a cartela de cores vão escurecendo, até acabarem em estruturas rígidas, meio armadura com pedaços de espelhos e ombros pontudos. Bem mais simples que suas coleções passadas, os clássicos bordados que Gustavo faz tão bem ficaram agora restritos a alguns looks escuros de forma bem pontuais e geométricas. Com peças bem fáceis de se usar a coleção desperta desejo, é super vendável, mas no final fica aquele sensação de que não vimos o melhor de Gustavo. Casa de Criadores Verão 2010 2º Dia O 2º dia de desfiles na Casa de Criadores, que começou com as apresentações do Projeto Lab, foi marcado por algumas boas surpresas. Começando pelo próprio Lab, que nesta edição contou com dois estreantes: Danilo Costa e Twooin. O primeiro apresentou uma coleção bem lúdica, cheia de elementos infantis como broches de coração, estampas de sorvete e ursos e uma cartela de cores bem suave. Inspirado no artista plástico Jeff Koons,a coleção traz boas idéias em tecidos bem leves, como o macacão rosa exatamente igual na frente e atrás, ou o então o macacão marinho que fecha o desfile, mas com alguns deslizes na modelagem ou na execução. Já as meninas da Twooin apresentaram um tema um tanto quanto complicado, mas com peças que mostravam boa visão e habilidade técnica. Nessa coleção queríamos falar das boas coisas da vida que não conseguimos mais fazer hoje, que são considerados luxo, como olhar o pôr do sol, andar de bicicleta, tomar o chá das cinco
, contou Juliana Altafim. O tema se desdobrou em peças de formas bem confortáveis em tecidos leves, as vezes em construções mais complexas, ora bem resolvidas, ora um pouco complicadas demais. Mas a grande surpresa mesmo, foi o estilista Arnaldo Ventura. Performance a parte, o estilista mostrou uma das coleções mais bem acabadas de todo Projeto Lab. O destaque mesmo fica por conta das jaquetas de referências safári pense em YSL -, com ombros estruturados e aplicações de correntes e medalhas douradas. Sempre com elementos militares Arnaldo insere bons elementos de alfaiataria em tecidos bem encorpados em tonalidades terrosas, sempre com detalhes militares. Já no line-up oficial da Casa de Criadores a primeira surpresa (ou quase) foi do coletivo Tudi Cofusi que nessa estação mostrou alguns sinais de evolução. De certo modo aquele excentricidade que sempre marcou as apresentações da marca nas apresentações passada, veio mais equilibrada com peças um pouco mais fáceis (e mais próximos da realidade). Com bons jeans em calças, saias, bermudas e até vestido, a marca mostra um comprometimento maior com as roupas em si, dando alguns sinais de amadurecimento. Depois foi a vez da Purpure, marca de beachwear Weider Silveiro e Mark Greiner. Ao contrário da coleção passada os anos 80 e seus desdobramentos (o Black Tie, o sportswear e o futurismo kitch) vem de modo bem mais dosado e cheio de sofisticação. A dupla a certa ao diminuir a dose de experimentalismo, deixando-a restritas à alguns looks com maxi aplicações de cristais e ombreiras pontudas ou bem redondas. Bem mais equilibrado e com acabamento melhorada, agora eliminando os excessos, sobra maiôs cheios de glamour e sofisticação. Com recortes ou laços em couro sintético, com aplicações de maxi fivelas com cristais ou então com golas de camisa e cheio de nervuras em materiais mais encorpados, as peças misturam na medida certa o melhor do sportswear, com o black tié e futurismo dos anos 80. Alguns desse elementos também aparecem como forte inspiração para o verão 2010 de Rober Dognani. Pensando no futurismo, vem os tecidos refletores, os metalizados e brilhantes, assim como os em tonalidades fluo, bem anos 80. Assim como no inverno, o verão é dos curtos, com volumes menos exagerados e peças mais bem acabadas. Numa silhueta em geral mais próximo do corpo, o estilista mostra uma certa novidade ao investir em referência bem sutis de alfaiataria, como no vestido com lapela toda desconstruída e volumes assimétricos. Continuam os ombros marcados, a moulage, a assimetria e os volumes meio tridimensionais. A diferença é que agora tudo parece mais equilibrado, com uma preocupação maior em não deformar ou esconder o corpo da mulher. Casa de Criadores Verão 2010 3º Dia O terceiro dia desfiles da 25ª edição da Casa de Criadores chegou a decepcionar. Das 7 marcas que se apresentaram no dia só 3 apresentam coleções dignas de comentários. A primeira delas, que abriu o último dia do evento, foi a Gêmeas, de Carolina e Isadora Krieger. Inspirada no México, a coleção vem como já era de se esperar quase toda baseada no preto, ficando por conta dos bordados típicos da cultura mexicana a inserção de cor. O ponto alto da coleção, contudo fica por conta dos vestidos, principalmente aqueles numa silhueta levemente mais próxima ao corpo, com boa proporção e com apenas alguns elementos pontuais que remetem ao tema. Bordados bem localizados em golas ou aplicações de flores se mostravam mais bem resolvidos do quando aplicados sobre toda a peça. Destaque também para as peças voltas a alfaiataria, como o bom blazer de proporções levemente aumentadas e as boas calças de modelagem um pouco mais largas uma cenoura de proporções excelentes e outra um pouquinho mais próxima do corpo com corte mais reto. Uma roupa leve, com formas soltas e volumes bem localizados foram alguns dos destaques do verão 2010 da No Hay Banda. O ponto de partida das estilistas Claudia Mine, Bruna Santini e Juliana Roso foi a luz e as diferentes formas de como ela é absorvida, refletida e refratada. Daí dá para entender o porque das cores super suaves, as sobreposição de tecidos brilhoso com outros o opacos e também a assimetria de alguns bordados. Mas por mais complicado que o tema possa parecer, o trio mostrou potencial e algumas boas peças, caso da saia azul de cintura alta com pregas horizontais, ou então do vestido branco bem leve que abre o desfile. Experimental na medida certa, a coleção mostrou exatamente o que se espera de uma marca jovem. Ousadia, exercícios de modelagem e estilismo, aliados a um acabamento considerável e foco num desejo de poder ser comercial. E como já é de costume, quem encerrou com chave de ouro quase que literalmente foi Walério Araújo, que nesta coleção quis traduzir paras roupas sua visão sobre arte. Na verdade é uma homenagem as pessoas que trabalham comigo, as bordadeiras, as costureiras, DJ
, contou Walério no backstage. Daí quis também trabalhar o conceito de nudez, mas sem hipocrisia e de forma atual, continua para explicar o porque das transparências, dourados, prateados e tons de pele. Para lembrar as estátuas e esculturas gregas. Mas mais do que isso, o verão 2010 de Walério Araujo mostra o estilista no seu melhor nível. Já faz algumas coleções que vemos essa tentativa de deixar sua mulher mais sofisticada, e nunca essa vontade esteve tão perfeitamente ligada a essência da marca. No geral, podemos dividir a coleção em dois grupo. Um mais elaborada, e sofisticado, dominado por brilhos e tonalidades de dourado e bronze. Aqui o trabalho manual é dos mais exuberantes. Como no vestido cheio de flores bordados usado por Vivianne Orth, ou então no dourado feito com o bico vai-e-vem da marca de azeite que patrocinou o desfile e também, o body cheio de maxi cristais um dos melhores looks de todo o desfile. É aqui também onde Walério dá mais espaço a sua fantasia e ousadia. Ao mesmo tempo que busca uma sofisticação quase que clássica, não deixa de lado seu lado mais abusado, como no macacão de lamê dourado super justo, nas transparências. O outro bloco dá conta das roupas mais fáceis de marca. Aqui Walério aproveita para brincar com as estampas de corpos nus de um jeito quase trompe loeil. Em vestidos mais simples e curtos aplica as fotos ora de jeito realista ora formando estampas meio caleidoscópicas. Destaque aqui também para o macacão cinza rendado, extremamente sofisticado e super fácil de chegar a vida real. |