Uma casa-galeria à mineira
Residência em BH reúne fantástica coleção de arte
Olhe bem as montanhas à sua volta, para contar a seus filhos como elas eram”, propõe o artista Manfredo de Souza Netto numa plaquinha que acompanha dois desenhos expostos na sala do colecionador o trabalho denuncia a degradação das montanhas mineiras. Em outra parede, há uma xícara de café de onde saem, feito fumaça, as palavras “ontem”, “hoje” e “amanhã” obra do carioca José Damasceno. E haja bagana, restos de cigarro de maconha, para compor o Baganão, trabalho da carioca Fernanda Gomes, pendurado no living.
Uma casa-galeria pode, sim, ser aconchegante, poética e lúdica, ao contrário do que comumente se imagina, levando em consideração que galerias de arte não são dos ambientes mais calorosos que existem. Esta, aliás, era uma preocupação da moradora e mulher do colecionador ao encomendar o projeto: ter aconchego e preservar o espaço do morar, da intimidade da família. E ela venceu.
Como num casamento ideal, o espaço do lar e da galeria estão juntos, porém, são definidos claramente como dois corpos independentes. A imensa casa de 1.240 m², construída num condomínio em Nova Lima, cidade colada em Belo Horizonte, fica no alto de uma montanha e conta com três planos distribuídos sobre um terreno em declive. A área da residência ocupa o nível mais alto, com cinco quartos, salas, piscina e cozinha. No andar do meio, ficam as dependências dos funcionários, o estúdio de música de um dos três filhos do casal e a garagem.
Embaixo de tudo, encontra-se a galeria, composta de salas expositivas com “obras brasileiras pop da década de 1960”, como define o colecionador e advogado mineiro de 46 anos. Há Antonio Dias, Nelson Lerner, Rubens Gerchman, Vergara… “Quem você quiser está aí”, diz ele, que há cerca de 15 anos monta seu espetacular acervo, abrangendo pintura, desenho, gravura, escultura, fotografia e objetos.
O mais difícil do projeto foi não criar um volume confuso, por conta dos diferentes usos dos cômodos e pela dimensão dos espaços, todos muito grandes”, afirma o arquiteto Humberto Hermeto. Para dar unidade ao conjunto, ele criou um grande pórtico de concreto armado, a partir do qual toda a casa se desenvolve. Sobre as salas de estar e jantar, a laje é curva, dando espaço a uma claraboia que fornece luz natural indireta.
Casa-galeria resiste ao clima do deserto
Casa galeria propõe novo jeito de morar
Um apartamento a céu aberto”
Chalé, sim, mas sem rusticidade
Inspiração tropical no lar canadense
Na galeria, as obras são protegidas seguindo as condições exigidas pelos melhores museus do mundo. A temperatura mantida entre 20 e 22 graus e a umidade em torno de 55% são controladas durante 24 horas por dia. Quando as generosas portas pivotantes estão abertas, a galeria recebe luz natural, mas as peças são preservadas graças a portas de correr com vidro dotado de película de proteção para raios UV.
A área da residência também foi pensada para funcionar como suporte das obras, com grandiosos espaços que colaboram para que se possam usufruir telas e fotos imensas espalhadas por quartos, corredor e sala. Esse acervo da área íntima é formado de criações contemporâneas mais recentes de artistas importantes, como Tunga, Adriana Varejão, Nuno Ramos e Miguel Rio Branco. Numa casa com tantos e amplos espaços, onde fica o retiro do colecionador?
No mezanino da galeria. É lá que ele se recolhe quando deseja relaxar e também, reunido com os amigos que compartilham o gosto pela arte, conversa sobre o assunto preferido em meio às obras da sua galeria particular.